Origem dos vocábulos da língua portuguesa.

O conjunto vocabular do idioma português foi obtido em diversas vagas sucessivas, relacionadas com as circunstâncias históricas e provenientes das línguas com que os portugueses estiveram em contacto ao longo dos séculos.

Tal como as outras línguas românicas, o vocabulário português tem origem no latim vulgar. Este latim incorporou elementos pré-latinos, relacionados com o ambiente rústico, como: barranco, lapa, morro, várzea, chaparro, mato, seara, broa, bezerro, bruxa, etc.” (PIEL 2) Para além disso, enquanto vigorou o Império Romano, o latim vulgar recebeu diversos elementos estranhos, virtude do seu contacto com outros povos e regiões. Piel destaca os elementos “«mediterrâneos», etruscos e, principalmente, gregos” para além de elementos próprios de povos submetidos aos Romanos, como ”celtas, «ibéricos», germânicos e outros.” (cf. PIEL 2) A partir do séc. IV, com a conversão do Império Romano ao Cristianismo, o latim vulgar sofreu a influência de diversos vocábulos gregos ligados a esta religião (como por exemplo ECCLESIA, port. Igreja). Por essa altura, desapareceu a terminologia ligada aos cultos pagãos. Quando o Império se desintegrou, no séc. V, os elementos itálico-latinos representavam a parte mais importante do léxico que compunha o latim falado na Península Ibérica.

O galaico-português começou a divergir das restantes línguas românicas a partir do séc. V, quando o Império Romano se desintegrou e os Suevos e Visigodos invadiram a região. Destes dialectos germânicos restam poucos exemplos, mas são seguros os termos visigóticos como “aleive, bando, espeto, espora, espia, escanção, luva, roca, ufano, arrear, ou seja, vocábulos referentes essencialmente a actividades militares, conceitos jurídicos e objectos caseiros.” (PIEL 4)

A partir do séc. VIII deu-se a invasão da Península Ibérica por parte dos muçulmanos. A influência que o superstrato árabe teve sobre o vocabulário latino da Península limitou-se, quase exclusivamente, a substantivos. Aos árabes devemos termos referentes à guerra e à administração (almirante, alferes, alfândega, aldeia, arrabalde, etc.), ligados à ciência e unidades de medida (algarismo, azimute, almude, arroba, etc.), ligados à agricultura, produtos agrícolas e industriais (azenha, nora, álcool, alcatrão, etc.), a plantas cultivadas e silvestres (arroz, algodão, laranja, alfarroba, alecrim, etc.), a animais (atum, alforreca, javali, etc.), outros ligados à arquitectura (alpendre, azulejo, aldeia, alvenaria, chafariz, etc.), ou ligados à música (adufe, rebeca, alaúde, etc.) e tantos outros mais.

Após a reconquista cristã, com o estabelecimento das fronteiras do Reino de Portugal, o Português arcaico afastou-se do galego. Durante a época medieval, o Português continuou a absorver termos do latim, uma vez que este continuava a ser escrito e falado nos meios culturais, nos conventos, nas liturgias. A par destes termos latinos, também novos termos gregos foram sendo incorporados no Português, através da via erudita. Entre as línguas românicas, o Português será aquela que mais se expôs às línguas clássicas.

A par dos latinismos, também a língua francesa tem influenciado o Português ao longo da história, desde o séc. XII até à época moderna. De muitos sectores fomos recebendo termos franceses que incorporámos no léxico português ao longo das épocas, como sejam: monge, rua, torneio, duque, batalha, ligeiro, cobarde, coragem, linhagem, mensagem, viagem, trovador, refrão, jogral, boné, chapéu, colete, blusa, croquete, filete, fricassé, etc.

Com a época dos Descobrimentos, a partir do séc. XVI, inúmeros vocábulos ampliaram o léxico português, fruto do contacto com povos e línguas exóticas. Do Oriente chegaram-nos termos como, por exemplo, bengala, andor, pagode, chá ou chávena; de África, termos como batuque, ananás ou inhame; das Américas vocábulos como batata, cacau, mandioca, tapioca ou tabaco.

Outros elementos nos têm chegado de vários países europeus, como da Itália e da Espanha. De Itália chegaram-nos essencialmente termos artísticos como: piano, ópera, aguarela, soneto, etc. A contribuição do Espanhol também é considerável, como por exemplo: cavalheiro, ganadaria, muleta, boina, mantilha, faina, etc. Das outras línguas europeias recebemos poucos vocábulos, embora se possa assinalar alguns oriundos do inglês, como bife, clube, lanche, etc.

Bibliografia:

– Piel, Joseph-Maria. “Origens e estruturação histórica do léxico português” (1976) in Estudos de Linguística Histórica Galego-Portuguesa. Lisboa, IN-CM, 1989. pp.9-16


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