A teoria científica da literatura considera esta como um sistema semântico, o que pressupõe a existência de uma langue, de um sistema constituído por um vocabulário (conjunto de signos) e por uma gramática (normas e convenções). A perspectiva semiótica torna-se indispensável para compreender os períodos literários, uma vez que estes são intervalos temporais em que determinado sistema sígnico desenvolve e esgota todas as suas possibilidades de significação.
O sistema literário articula-se de forma directa e dinâmica com a historicidade que o caracteriza. A dinâmica da evolução literária expressa-se na sucessão dos períodos literários. Esta sucessão acontece de forma continuada e fluida.
Entende-se por evolução literária o conjunto das transformações que, ao longo dos tempos, atinge a linguagem literária, tanto ao nível dos seus signos e códigos, como das estratégias literárias (p.ex: aparecimento e obsolescência de géneros). No diálogo entre inovação e convenção, sucedem-se determinados estádios de evolução literária: i) no início do ciclo evolutivo, a inovação apresenta-se como desvio à ordem estabelecida e derroga os códigos dominantes; ii) de seguida, aquilo que era inovação torna-se convenção, ao ser incorporada pelo sistema literário; iii) no final do ciclo literário dá-se um estádio de saturação onde predominam mensagens redundantes, estereotipadas e esvaziadas de originalidade.
O conceito de período literário descreve e explica um conjunto de fenómenos resultantes da dinâmica do sistema literário, que se manifestam com continuidades e rupturas. O período literário constitui uma fracção da evolução literária e estabelece-se de acordo com semelhanças nos textos então produzidos. Trata-se de um segmento temporal em que predomina um policódigo (sistema de normas, convenções e padrões literários) cuja manifestação (introdução, difusão, desaparecimento) nós podemos observar.
Os períodos literários não são meras divisão cronológicas e, por isso, não devem ser rigidamente compartimentados. A utilização de datas serve apenas para os balizar, não sendo possível precisar nem o início nem o final dos períodos literários. Por outro lado, estes não se sucedem de modo abrupto no tempo, mas através de zonas difusas, de imbricação e interpenetração. Enquanto fenómenos históricos, eles transformam-se continuamente, pelo que todos os períodos literários são períodos de transição. Por outro lado, numa concepção organicista, ou por analogia biológica, considera-se que um período literário desaparecido pode renascer, re-emergindo no fluxo da historia.
As designações periodológicas não são imotivadas nem inconsequentes. Por vezes um período literário apenas assume contornos literários à posteriori, o que não invalida uma certa auto-consciência períodológica por parte dos autores do mesmo período. No caso das designações propostas “ex post facto” pelos historiadores, tais escolhas decorrem da etimologia e da história dos vocábulos, amiúde alicerçados na metalinguagem dos artistas actuantes no período em causa.
Diverso estilos de época coexistem na mesma área geográfica, durante a mesma altura. O estilo hegemónico, (ou seja, aquele que prevalece no núcleo do sistema) permite delimitar, caracterizar e designar o período. Designações como século, época ou era, apontam para a duração dos estilos literários épocais. Designações como movimento e corrente significam os aspectos dinâmicos e mutáveis desses mesmos estilos.
Fontes:
“O Conhecimento da Literatura”, de REIS, Carlos – Editora Almedina, Coimbra, 2015
“Teoria e Metodologia Literárias”, de SILVA, Aguiar – Universidade Aberta, Lisboa, 2004
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