
O cânone literário consiste no conjunto de obras literárias consideradas mais importantes e influentes da tradição. O cânone é uma seleção de textos adotados por uma comunidade, que produzem e reproduzem valores, que definem aquilo que é legítimo ou proibido. As obras canônicas são aquelas que exerceram maior influência sobre as obras posteriores e que apresentaram maior originalidade na sua época.
“O tempo será, sempre, o grande factor de autoridade na definição de um cânone.” – Nuno Júdice
Como explica Nuno Júdice, no ABC da crítica (2010), o reconhecimento literário, para inclusão de obras no cânone, “decorre de instâncias várias, desde a tradição, em que se inscrevem dicionários, enciclopédias, histórias literárias, a instituições, como academias, escola, universidade, etc. [ … Este reconhecimento] constitui uma instância de poder: aquele poder que decide que obras devem entrar no cânone, ou não.” (p. 22) A discussão inter pares, a consagração editorial, a crítica académica, decidem se dada obra pertence a um período literário, se é (ou não) incluído no cânone. Assim, para este autor, o reconhecimento canónico é a aceitação de uma obra por parte da sociedade ou da instituição académica.
No caso do cânone ocidental de Harold Bloom, este é constituído pelas obras literárias que ele considera mais importantes e influentes da tradição ocidental, segundo aspectos estéticos e de originalidade. Este autor defende a ideia de que essas obras possuem um valor intrínseco, que transcende as questões sociais e políticas. Ele valoriza a beleza e a originalidade das obras literárias, em detrimento de critérios ideológicos ou políticos. Ou seja, para Harold Bloom, o cânone ocidental foi obtido pela seleção das obras literárias da tradição ocidental com base em critérios estéticos.
Também para Nuno Júdice, a inclusão de uma obra no cânone exige “uma objectividade que depende sobretudo de critérios estéticos – que são os que contam, na avaliação da qualidade das obras – e não políticos, ideológicos e muito menos promocionais.” (p. 25) A História Literária tem um percurso próprio, imune a juízos de moda ou de época. A literatura “não pode estar dependente nem da moda nem do mercado. Pelo contrário, é da fixação de um modelo canónico que se estabelece o respeito por determinadas orientações estéticas ou, pelo contrário, pela desobediência a essas orientações.”(p. 51) Para além disso, “a fixação de um cânone não pode ser a eliminação das diferenças, nem a simplificação de um passado.” (p.36) Os autores do cânone, grandes e pequenos, são fundamentais para percebermos de onde vimos e a sociedade que fomos construindo, quais as origens da nossa cultura e quais os mitos ou modelos que persistem.
“O cânone literário é, assim, o corpo de obras (e seus autores) social e institucionalmente consideradas “grandes”, “geniais”, perenes, comunicando valores humanos essenciais, por isso dignas de serem estudadas e transmitidas de geração em geração.” (Duarte, 2009)
Referências:
- Bloom, Harold. O cânone ocidental. Temas e Debates. 2011
- Duarte, João Ferreira. “Cânone”. e-Dicionário de Termos Literários. UNL. 25-03-2025. https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/canone
- Júdice, Nuno. ABC da crítica. Publicações D. Quixote. 2010
Deixe um comentário