A literatura é um fenómeno histórico da sociedade humana, e a confrontação inter-geracional é um factor de dinamização do processo literário que ajuda a explicar o devir da evolução literária. Os novos autores necessitam de competir pelo seu espaço, em confronto com o poder instalado no campo literário.
Uma geração literária refere uma colectividade, nem sempre coesa e solidária, de escritores e intelectuais com idade aproximada que, ao defrontarem-se com os mesmos problemas colectivos, apresentam preocupações estético-literárias semelhantes e convergentes. Estas preocupações projectam-se nos textos desses autores, fazendo com que a geração literária assuma lugar de relevo, por volta da mesma altura, numa determinada literatura nacional.
Quando os membros de uma dada geração se associam em torno de um programa estético-literário, defendendo-o e realizando-o na prática, estamos perante um movimento literário. Normalmente um movimento tem um guia que representa os ideais e os objectivos do colectivo. Quando o grupo se organiza numa relação discipular, ou seja, quando existe um mestre cuja autoridade e magistério é acatado por discípulos, estamos perante uma escola.
As transformações literárias possuem dimensão colectiva e relacionam-se com as outras transformações históricas (sociais, culturais, económicas, etc.). Tais interacções reflectem-se, sobretudo, nas opções ideológicas e temáticas que se expressam no discurso literário.
O conceito de ideologia refere um sistema de ideias e juízos, que descreve e explica a situação de um colectivo, orientando-o na sua acção histórica. Assim: i) as ideologias compreendem sentidos (ideias, juízos, valores) assimiláveis pelo discurso literário; ii) as ideias organizam-se de forma sistemática e fornecem coesão ao discurso literário de determinado período; iii) o alcance colectivo do sentido ideológico favorece o aparecimento dos movimentos periodológicos; iv) a dimensão histórica das ideologias condiciona a própria historicidade (eclosão, maturação e desvanecimento) dos períodos que as representam.
Estritamente sintonizados com as ideologias, os temas são entidades de forte implicação semântica, que podem estar presentes ao longo dos textos ou mesmo no conjunto da literatura (p.ex: o tema da morte). Eles disseminam-se no espaço e viajam no tempo, articulando-se com o devir da evolução literária e ilustrando a componente axiológica (ou seja, os valores predominantes) dos períodos literários. Em função desta articulação, alguns sentidos temáticos surgem como culturalmente oportunos e ideologicamente necessários, enquanto outros serão desvalorizados ou mesmo esquecidos.
Contudo, embora os períodos literários se expressem numa linguagem própria, indissociável dos elementos temáticos e das ideologias que os regem, eles não devem ser concebidos como respostas lineares a injunções ideológicas. O fenómeno literário tem uma existência autónoma, pelo que a sua interacção com ideologias não corresponde a processos mecânicos de determinação e dependência. A complexidade literária torna problemática a ligação rígida de um período a ideologias únicas.
Fontes:
“O Conhecimento da Literatura”, de REIS, Carlos – Editora Almedina, Coimbra, 2015
“Teoria e Metodologia Literárias”, de SILVA, Aguiar – Universidade Aberta, Lisboa, 2004
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