Aspectos da Hipermodernidade

Hipermodernidade é o termo utilizado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para referir o estágio actual da sociedade humana. Este período é caracterizado por uma cultura de excesso. Na senda do modernismo, tudo é exagerado e levado ao extremo. Integra-se o passado numa nova lógica de mercado, de grande consumo, de avanço tecnológico e de individualização exacerbada. Trata-se de um liberalismo globalizado, de uma mercantilização da técnica e dos modos de vida, de um individualismo extremo.


O hipercapitalismo refere um mercado global cujas regras liberais se estendem a todos os continentes do planeta. Os grandes fluxos financeiros redesenham o mercado e o capital dos grandes fundos concentram-se na especulação. As fronteiras passaram a permitir a troca de bens e serviços de uma forma mais livre e flexível. As empresas internacionalizaram-se e esforçam-se por satisfazer a demanda maciça dos clientes. Elas lutam por quotas de mercado contra uma concorrência cada vez mais eficiente e poderosa. As cadeias de produção e distribuição também se modificaram, com as fábricas a relocalizarem-se em países onde a mão-de-obra é mais barata e com os produtos a atravessarem o mundo inteiro para chegar ao cliente final.


O culto da felicidade tornou-se central no hiperconsumismo. As sociedades actuais organizam-se com vista a criar um quotidiano mais confortável e fácil, o que é sinónimo de felicidade. A sociedade de consumo procura esta felicidade através da aquisição de bens, de serviços e de informação. Para responder a tal demanda, as campanhas de marketing e publicidade impregnam-se com mensagens que estimulam sensações de felicidade. Por outro lado, neste novo mercado global, os consumidores são cada vez mais informados e exigentes, querendo a satisfação imediata de produtos personalizados. Com o recurso das novas tecnologias de comunicação,
compram, por impulso, as últimas novidades das marcas de luxo. A cultura de busca do prazer imediato participa na promoção e manutenção do hiperconsumismo.

A sociedade de consumo promove o isolamento social e acarreta sérios problemas de alienação, como sejam a ansiedade, a depressão ou o suicídio. Enclausurados pelas novas tecnologias da informação, os seres humanos fecham-se num casulo. Acresce que o homem contemporâneo participa de uma
competição constante, transpondo para a sua vida quotidiana as mesmas leis do mercado; vive em função do seu desempenho, da sua produtividade ou do seu nível financeiro. Enquanto isso, as referências colectivas evaporaram-se sucessivamente. Assistimos a um hiperindividualismo, numa sociedade praticamente desprovida de valores morais. Os indivíduos mobilizam-se em torno dos seus interesses pessoais e não mais em função das grandes ideologias, sejam religiosas, políticas ou outras. Estas perderam a sua força de outrora. No entanto, embora estas ideologias tenham colapsado, surgiram novos
discursos que o consumidor valoriza: primeiro, os direitos dos homens, depois, a ideologia médica (a saúde) e, finalmente, as questões ambientais e ecológicas.


A hipertecnologia encarna a fascinação e a força da novidade. Podemos constatar que a técnica invadiu todos os domínios da vida humana. Impôs-se como cultura global trazendo uma nova maneira de ser, de pensar e de viver. A técnica apoderou-se dos seres vivos, tornou-se omnipresente, tentacular e ilimitada. Esta loucura tecno-mercantil provoca um produtivismo frenético e um
desperdício enorme. A tecnologia, associada ao liberalismo económico, resulta numa mercantilização ilimitada e num desperdício desmesurado. Esgota os recursos naturais, provoca alterações climatéricas e tem impacto negativo na saúde pública.


Assim, a hipermodernidade pressupõe estas quatro dimensões: o hipercapitalismo, o hiperconsumismo, a hiperindividualização e a
hipertecnologia. A sociedade contemporânea transformou-se num mercado global. Os indivíduos tornaram-se numa rede de consumidores ansiosos pela última novidade. Com excesso de informação, o homem contemporâneo, assume os valores e princípios mercantis. Em constante competição, individualiza-se e isola-se numa espiral de alienação, frustração e depressão. A tecnologia instala-se e modifica todos os aspectos de vida comum e do planeta, com impactos acentuados na qualidade de vida dos seres humanos e degradação da biosfera.


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