A fotografia modificou-se e popularizou-se desde que foi inventada no início do séc. XIX. A sua tecnologia evoluiu, desde as velhas máquinas a preto e branco até à fotografia digital actual. Nos dias que correm, todos os telemóveis têm incorporada uma máquina fotográfica. A maioria das pessoas tira fotografias regularmente, e estas são partilhadas nas redes sociais de forma avassaladora. O mundo real é capturado a todo o instante por milhões de imagens que se difundem nos mais diversos meios. Estas fotografias são tiradas com propósitos diferentes: podem ser apenas registos para arquivar, ferramentas de trabalho, mensagens que se deseja propagar, ilustrações de ideias, etc. Em certo sentido, o mundo contemporâneo é construído por imagens, destacando-se a fotografia de entre elas.
A capacidade de capturar a imagem de um objecto físico, de uma pessoa, de uma paisagem, e a reproduzir em cópias perfeitas, leva a que a fotografia tenha sido inicialmente posicionada no campo do realismo. A sua objectividade tem sido um valor dominante, desde a época do aparecimento da fotografia. Dentro da perspectiva de imitação do real, para além do domínio técnico que permite a perfeição do resultado final, a composição formal adquiriu relevância. A surpresa dos pontos de vista, da composição dos pormenores capturados, dos efeitos apresentados, tornaram-se aspectos que permitiram desenvolver a criatividade do fotógrafo. Mais do que uma cópia do real a fotografia passou a apresentar uma “leitura” da realidade, ela oferecia algo mais do que apenas a imitação mecânica. Oferecia uma nova forma de ver e observar o mundo.
O tratamento fotográfico, desde o tema seleccionado à regulação da máquina, do enquadramento à revelação, até à impressão das provas finais, constituiu, também, espaço para um imenso experimentalismo. Inúmeros fotógrafos utilizaram as várias técnicas disponíveis no processo fotográfico, como forma de se expressarem. Assim, muitas fotografias deixaram de ser apenas imitação de uma realidade para se posicionarem como imagens autónomas, criadoras de novas realidades. Esta forma de encarar a fotografia permitiu dar espaço à imaginação, e a criatividade dos fotógrafos aflorou em novas e originais visões do mundo.
O fotógrafo pode expressar-se através dos meios que a fotografia oferece. As teorias estéticas da expressão podem ajudar a enquadrar este entendimento sobre fotografia. Estas teorias consideram que existe uma relação entre duas mentes, e que essa relação é estabelecida através de um objecto estético. Neste caso a fotografia será o objecto estético a partir do qual se estabelece a relação entre a mente do fotógrafo e a do observador. O fotógrafo transmite uma sensação, ou conjunto de sensações, ao observador através da fotografia. Neste caso, o mais importante são os sentimentos expressos, sendo que uns são mais relevantes ou básicos do que outros.
No entanto, o observador também participa desta relação. A fotografia, em si, pode ser considerada como um conjunto de símbolos portadores de significado. Cabe ao observador descodificar os seus símbolos e atribuir significado a essa fotografia. Esta capacidade de o observador atribuir sentido à fotografia, realça o seu papel na valorização do objecto estético. Numa teoria estética da recepção, a tónica é colocada sobre o observador, em detrimento do criador, virtude do papel fundamental que desempenha na interpretação da obra.
De todas as fotografias, algumas elevam-se à categoria de obra de arte. Não por captarem de forma fidedigna certo objecto, mas antes por proporem uma nova experiência da realidade. Permitem-nos estruturar as nossas ideias e sentimentos, entender um pouco melhor o nosso mundo. Enquanto obras de arte, elas são intencionais, ou seja, têm o propósito de ser apreciadas esteticamente. E exigem a nossa participação: enquanto público participamos na experiência estética. Trata-se de exercer atitudes e faculdades capazes de captar essa experiência. Atitudes e faculdades que podem ser aprendidas e treinadas. Participamos convocando a nossa história pessoal e identidade, trazendo a soma das nossas próprias experiências. Por outro lado, esta participação pode exigir um certo afastamento mental, uma contemplação desinteressada, por forma a não contaminar a experiência estética ou o entendimento que possamos fazer da obra de arte.
A arte está intimamente relacionada com o público que a consome. Público e arte definem, em conjunto, o mundo da arte. Nesta sequência, existe um público ideal constituído pelos críticos de arte. São um público privilegiado: profundos conhecedores, os críticos são, por um lado, consumidores de arte informados e, por outro, produtores de textos que nos pretendem influenciar. Eles formulam argumentos e emitem juízos acerca da obra de arte. Ajudam-nos a interpretar, a contextualizar e a situar uma obra de arte em relação a outra. Permitem-nos reflectir e ampliar o entendimento que fazemos das obras que observamos.
As obras de arte necessitam de algum tipo de possibilidade institucional. Museus, galerias e outras instituições emergiram na sociedade, conferindo validade e promovendo as obras de arte. O mundo da arte torna-se o produto das instituições. As obras de arte ajudam a construir a cultura vigente, e muito da nossa identidade é construída pelas suas narrativas. Num certo sentido, o observador de uma fotografia é colocado numa relação criada pela instituição a partir da qual foi criada essa fotografia. A instituição é responsável pela produção da arte, que por sua vez transforma a própria instituição.
O mundo assistiu à proliferação da fotografia. Ela evoluiu tecnologicamente desde o seu aparecimento até à moderna fotografia digital. Tendo surgido como forma de registar a realidade, a fotografia transformou-se num meio prático de transmitir diferentes pontos de vista acerca do mundo que nos circunda. Os fotógrafos rapidamente conseguiram criar imagens autónomas, objectos visuais originais, e não apenas cópias da realidade. Estas imagens podem ser contempladas esteticamente. Elas permitem relacionar a mente do criador com a do observador. Ao observador compete descodificar a imagem que observa, atribuindo-lhe significado. Algumas das fotografias atingem o estatuto de obras de arte. Por outras palavras, são valorizadas pelo mundo da arte, por instituições sociais que têm como objectivo promover a obra de arte. Este mundo da arte é definido pelo conjunto da arte e do público que a aprecia. Parte deste público é constituído por críticos de arte, que têm conhecimento para comentar e ajuizar acerca das obras artísticas. Eles ajudam-nos a aprofundar a nossa relação com as obras de arte. Por sua vez, estas obras ajudam-nos a moldar e estruturar a nossa ideia do mundo.
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