Breve introdução à ética

Ética é o ramo da filosofia que reflecte sobre a natureza do bem e do mal, sobre os valores que distinguem uma atitude correcta de outra errada, sobre qual a forma moralmente adequada de agir. Sabemos que os seres humanos agem motivados por razões pessoais, tendo em vista os seus próprios fins. Mas podemos considerar a felicidade como aquele bem último que todos os seres humanos almejam alcançar. Reconhecendo que o seu significado varia de pessoa para pessoa, cabe aos filósofos determinar a natureza dessa felicidade.

Embora rejeitando certas concepções de felicidade (vidas dedicadas à obtenção de riqueza, honras ou prazer físico), Aristóteles afirma que “a felicidade é o mais extremo dos bens que a acção humana procura obter.” (Aristóteles 1095) Para o Estagirita, felicidade é ter uma vida que manifeste aquelas características que nos distinguem como seres humanos; levar um género de vida que, submetendo as paixões à razão, exprima a nossa própria essência. Neste sentido, o nosso impulso para a felicidade deve ser conduzido por uma conduta virtuosa. Para Aristóteles, uma vida feliz será uma vida excelente, virtuosamente vivida.

Para Immanuel Kant, a felicidade e o prazer referem-se aos sentidos e não têm valor moral. Na sua perspectiva, as acções humanas devem ser orientadas por um conteúdo moral, praticadas por dever. “Uma acção practicada por dever tem o seu valor moral, não no propósito que com ela se quer atingir, mas na máxima que a determina […]” (Kant 30). Numa máxima, o conteúdo moral exige que as acções sejam practicadas por dever. O indivíduo não deve ser motivado por inclinação imediata ou interesse pessoal, mas agir por respeito à lei moral. Por isso, Kant traça o imperativo categórico, um imperativo único do qual podem derivar todos os imperativos do dever: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (Kant 59)

        John Mill, ao contrário de Kant, sustenta que não só a felicidade tem um valor moral, como é o objectivo último para o qual se dirigem todas as acções humanas. Ele entende esta felicidade como “o prazer, e a ausência de dor,[…] as únicas coisas desejáveis como fins” (Mill 51). No entanto, não é a quantidade de prazer, mas a sua qualidade, que é relevante e decisiva. Mill valoriza os prazeres superiores (do intelecto, da imaginação, dos sentimentos morais) em detrimento dos prazeres inferiores (ligados às necessidades físicas, como comer, beber, sexo). Insiste, ainda, que se deve considerar o bem-estar de todos e não apenas o de uma única pessoa. Moralmente, as acções serão tanto mais correctas quanto permitam a maior felicidade para o maior número de pessoas.

Temos, assim, três diferentes perspectivas éticas: i) a visão de Aristóteles, uma ética de virtudes, baseada naquilo que uma pessoa humana deve ser; ii) a ética Kantiana, baseada em deveres morais, em regras que devemos obedecer; iii) e o utilitarismo de Mill, uma ética baseada em resultados, que pretende «maximizar a felicidade para a maioria das pessoas».

BIBLIOGRAFIA:

·        Aristóteles. Ética a Nicómaco. Trad. António Castro Caeiro. Lisboa: Quetzal, 2004.

·       Kant, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2007.

·  Mill, John Stuart. Utilitarismo. Revisão científica, introdução e notas de Pedro Madeira. Lisboa: Gradiva, 2005.


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