Aos dois modos de enunciação, o mimético e o diegético, o drama e a narrativa, acresce um terceiro: a lírica. Esta não pretende recriar acções humanas, antes exprimir sentimentos. De acordo com Maria Correia, em LITERATURA INGLESA I: Época Renascentista, qualquer dos modos manifesta-se sem conseguir manter “uma ininterrupta pureza, ou, se preferirmos, monotonia enunciativa. A mistura irrompe a cada passo.“ (p. 371) Assim, qualquer modo enunciativo pode integrar os restantes. Na lírica, o modo de enunciação não é mimético nem diegético, embora possam ser detectadas situações de diálogo ou a presença ocasional de um narrador. Por outro lado, a acção embrionária que possa existir nos trechos lírico não se desenvolve em enredo.
Todos os modos de enunciação têm um ponto de vista. A lírica tende para um ponto de atenção que coincide com o sujeito do enunciado. Isto leva-nos a confundir este sujeito do enunciado com o sujeito da enunciação, que, por sua vez, se confunde com o autor.
Esta confusão do sujeito do enunciado com o sujeito da enunciação e com o autor ( a par do desenvolvimento poético do período do romantismo, com a sua tónica no individualismo do eu) levou a que a poesia lírica seja entendida como se fosse a «expressão do eu». Contudo, como explicita Correia, “não o é, sobretudo porque o texto [lírico] não se identifica [necessariamente] com a expressão do pensamento e do sentimento do autor.” (p. 378)
No entanto, o sujeito do enunciado domina qualquer texto lírico: utiliza um ponto de vista predominante e instaura-se como ponto de atenção decisivo no seu próprio discurso. Não passa, porém, de uma personagem, de um ente de ficção que funciona como principal elemento organizativo da coesão do texto. O texto lírico submete-se ao poder aglutinador desta personagem, do sujeito do enunciado.
Bibliografia:
– Correia, Maria Helena de Paiva, e Maria Eduarda Ferraz de Abreu. LITERATURA INGLESA I: Época Renascentista. Lisboa: Universidade Aberta, 1996.
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